quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Significados e sentidos do trabalho do home-office

 Desafios para a regulação emocional

Sonia Gondim

Doutora em Psicologia

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O lar passou a ser, para muitos trabalhadores, o lugar de trabalho. Isto está afetando, em graus diferenciados, a rotina de vida e de relacionamento com seus familiares. Também está fazendo com que o trabalhador reveja os sentidos e significados do trabalho, colocando à prova sua capacidade de regular as emoções.

O tempo de trabalho comumente se estende para além da jornada contratada, visto que hoje qualquer um que disponha de um dispositivo eletrônico pode ser encontrado a qualquer tempo e lugar.

Em tempos de pandemia e de afastamento social presencial, ao contrário, muitos trabalhadores se viram da noite para o dia em sistema de trabalho de home-office, sem que de fato estivessem preparados para isto.

Trabalhadores que sequer haviam pensado nesta possibilidade em suas vidas vivem um turbilhão de sentimentos, incluindo a angústia e a ansiedade, em um contínuo esforço para se adaptarem à nova condição, ainda que provisória.

O significado e o sentido do trabalho:

O significado e sentido do trabalho são manifestações individuais e cabe a cada um contextuar porque são manifestações singulares (reflete trajetórias individuais) e socioculturais (formas diferenciadas de inserção social).

Supõem a interação humana mediada por múltiplos símbolos culturais incorporados e processos de socialização distintos. Por isso, acabam por expressar várias contradições. Afinal, o trabalho é a principal atividade na interação com o mundo, tendo importante função psicológica no nosso desenvolvimento como pessoa (Clot, 2006)

O trabalho pode significar dignidade e humilhação, saúde e adoecimento ocupacional, prazer e sofrimento, sustento econômico e dureza de enfrentamento, desafios e riscos de acidentes.

A regulação emocional:

A regulação emocional se insere em um processo denominado de autorregulação que envolve o pensamento, a emoção e a ação. A autorregulação é um processo psicológico ativado de modo automático (com pouco controle consciente).

Regular uma emoção significa tentar alterar, de alguma forma, qual emoção sentir, quando, de que modo e com que intensidade senti-la (Gondim, 2019; Gross, 2015). Certamente não é tarefa fácil, porque estamos mais preparados para reagir impulsivamente às perturbações do que tolerar sentimentos que nos incomodam. Temos pouca tolerância a emoções e sentimentos, como medo, ansiedade, angústia, tristeza, raiva e nojo.

Um dos maiores desafios atuais para quem está trabalhando em casa é admitir que não reagimos somente ao sistema de home-office, mas às condições em que o estamos vivendo no momento.

Muitos seguramente, não dispõem de espaço próprio para reservar um lugar somente para o trabalho, separando-o de todas as outras atividades e do funcionamento geral do lar.

Sabemos que, cada vez mais, as pessoas moram em espaços pequenos e a distribuição dos espaços e cômodos nem sempre facilita separar trabalho e lar, principalmente quando há outros membros da família, incluindo crianças e idosos.

Então, há ao menos dois tipos de demandas que exigem regulação emocional: as do trabalho e as do lar.

Se não podemos no momento nos esquivar de nenhum dos dois, precisamos encontrar alternativas para demarcar melhor o espaço e o tempo dedicado ao trabalho, aos afazeres domésticos e à convivência familiar.

Que caminhos podemos adotar:

Para buscar alternativas devemos começar com indagações para saber exatamente qual a causa da inquietude e alteração emocional:

1-      Como eu vivenciava o meu trabalho antes da pandemia?

2-      Que significados e sentidos esse meu trabalho tem para mim?

3-      Trabalhar em sistema de home-office era algo que eu desejava e via com bons olhos?

4-      O que eu mais valorizava no meu trabalho?

5-       Receber dinheiro para minha sobrevivência, realizar-me pessoalmente, interagir com outras pessoas, sentir-me útil, ser reconhecido socialmente, ter status, cumprir meu dever – o que mais era e é importante para mim?

6-      Esta situação de home-office está me fazendo rever esses valores, sentidos e significados?

7-      Introduzi novos valores? Cresci pessoalmente?

8-      Quais emoções reconheço estar vivendo que estão relacionadas às reflexões que faço sobre o que me vinculava ao trabalho antes e agora?

9-      Que aspectos da realidade e de minha história pessoal mobilizam esses sentimentos, emoções e afetos?

Questionar ajudará a manter-nos conectados com a realidade, identificar melhor as fontes de incômodos, usar nossos recursos cognitivos, emocionais e comportamentais, além de compreender melhor a situação que estamos vivenciando.

Identificar qual é o maior problema que nos angustia e/ou nos atemoriza, explorando as nossas possibilidades de reflexão, é o primeiro passo e pode nos abrir para alternativas criativas ou, ao menos, antes inimagináveis.

Não sabemos quanto tempo você seguirá em sistema de home-office. Pensar que isto seja provisório, atenua emoções indesejáveis ou ao menos as colocam em níveis de intensidade mais baixos.

Façamos um exercício de flexibilidade mental que pode atenuar a ansiedade. Dessa maneira, estamos usando o pensamento como uma forma de mudar nosso ponto de vista e deste modo conseguimos mudar também os nossos sentimentos em relação ao problema que nos aflige.

Outro caminho de construção de alternativas é não hesitar em pedir ajuda a pessoas que estão perto de você.

Leve em conta a idade de seus filhos e veja de que modo cada um pode colaborar com uma tarefa mínima que seja. Reconhecer que algo não está bem com você e que precisa de ajuda e pedi-la é um importante passo em processos regulatórios.

Aliás, pesquisas empíricas recentes sugerem que não só a percepção de contar com ajuda de outras pessoas (suporte social) mostra-se fundamental, mas o processo ativo de busca de suporte é igualmente relevante e ajuda no bem-estar pessoal e na saúde mental (Menéndez-Espina et al., 2019).

Compartilhar as aflições e alternativas com amigos à distância, utilizando redes sociais também pode ser um caminho para lidar com as emoções que te inquietam, diminuir a solidão e aprender novas alternativas.

Somos essencialmente sociáveis e nos afastar dos contatos sociais podem acarretar     doenças mentais irreparáveis.

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